- Entrevista
- Quem foi Dom Amando Bahlmann
- E a missão Cururu SMIC
- Há cem anos, Frei Amando Bahlmann, OFM, era nomeado bispo da
Prelazia de Santarém. Três anos depois, este missionário alemão fundava a
Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição. Responsável por este
legado na região, Irmã Maria Petronila de Sousa Soares, ou simplesmente Irmã
Nila, conta nesta entrevista um pouco da história da congregação e fala do
desafio de manter este legado num mundo cada vez mais secularizado, numa região
tão ampla e tão rica de belezas naturais e, por conseqüência, não menos rica em
conflitos. “No ano passado, abrimos as comemorações do centenário de chegada de
Dom Amando e, em 2010, vamos comemorar o centenário de fundação da Congregação.
A nossa história não pode se separar dos franciscanos”, explica.
Por Moacir Beggo
- Site Franciscanos - Como nasceu a Congregação das Irmãs
Missionárias da Imaculada Conceição?
Ir. Maria Petronila – Dom Amando Bahlmann chegou exatamente em 1907 a Santarém. Logo
depois, em 1910, ele fundou a Congregação. Tudo começou quando ele foi à
Alemanha e, numa celebração no Convento das Clarissas, em Münster, perguntou se
algumas delas não querima ser missionárias na Amazônia. Elas disseram que não,
mas contaram a ele que havia uma professora ingressando na Ordem. Então, Dom
Amando entrou em contato com ela e acertou a vinda para o Brasil. Primeiro esta
professora fez um Postulantado rápido com as Clarissas, vestiu o hábito e veio
para o Rio de Janeiro, onde passou a morar no Convento da Ajuda das
Concepcionistas. Com elas, a jovem irmã formanda passou uns dois meses e,
quando viajou para Santarém, teve a companhia de mais 4 concepcionistas que
deixaram o convento para ser missionárias. Só que duas abandonaram a
congregação e uma, depois de 10 anos, retornou ao Mosteiro no Rio. Na verdade,
Dom Amando considera co-fundadora a Madre Imaculada, que foi quem implantou o
espírito da congregação. Por causa da família franciscana, temos a
espiritualidade franciscana como centro de nosso carisma. Na verdade, o nome da
congregação deveria ter a palavra franciscana, mas quando Dom Amando foi
registrá-lo em Roma, já existia uma congregação assim chamada e, como ele tinha
pressa, ficou Irmãs Missionárias. Além disso, a irmã co-fundadora tinha sido
curada em Lourdes de uma tuberculose óssea - já tinha perdido um dedo e ia
amputar um braço - e, com toda essa devoção a Maria – que também é do carisma
franciscano -, nossa espiritualidade não poderia deixar de ser mariana e
franciscana. E como a congregação foi fundada para a missão, ela é missionária.
Tanto é que Dom Amando mandou logo no início as irmãs para a missão indígena
com os frades, que é a Missão de São Francisco do Rio Cururu, onde estamos
ainda hoje. E ela se espalhou no Baixo Amazonas, que naquela época não conhecia
a presença de religiosas. Os franciscanos e as irmãs foram os primeiros. Então,
todas as escolas, hospitais que existem por aquela região, foram construídos
por Dom Amando e Madre Imaculada. Pela necessidade da região, nosso trabalho é
direcionado para a educação, saúde e a evangelização.
- Site
Franciscanos - E como se tornou uma grande congregação?
Ir. Nila – Cada vez que Dom Amando ia para a Alemanha, trazia jovens de lá
para serem missionárias na Amazônia. Muitas morreram com febre amarela naquela
época. Depois começaram a surgir as vocações nativas. É tanto que, hoje,
praticamente a gente não tem irmãs alemãs. Só as que estão na Província da
Alemanha, que são praticamente 36, e as da Província da Namíbia, que também tem
algumas, mas nas duas províncias do Brasil só tem uma. Nos EUA, elas são bem
idosas. No Brasil, uma província tem sede em Belém, que tem como território os
estados do Pará, Amazonas, Maranhão e Ceará, e outra com sede em Salvador, que
tem como território Bahia, Pernambuco, Sergipe e Piauí. Nós ficamos
praticamente no Norte e Nordeste.
- Site
Franciscanos – Em que países a congregação está hoje?
Ir. Nila - Temos a Província da Alemanha, da Namíbia, de Tawain e dos EUA.
- Site
Franciscanos – Como foi esta expansão mundial?
Ir. Nila – Olha, como são os caminhos de Deus! Dom Amando com a
co-fundadora viajaram aos Estados Unidos para arrecadar fundos visando à
construção do Colégio Santa Clara em Santarém, para órfãos. Lá, no Convento São
Boaventura, dos franciscanos da América do Norte, ela caiu, fraturou o fêmur e
não pôde retornar para o Brasil. Aí, veio a 2ª Guerra Mundial e, então, ficou
mesmo impossibilitada de retornar. Mas ela não parou. Abriu um noviciado lá e
iniciou uma província nos EUA. Mesmo permanecendo por 14 anos acamada, ela
governou a Congregação do leito. Tanto que o Generalato era lá em vez de
ser em Santarém, que é a sede da fundação. Dali, ela enviou as irmãs para
Taiwan e para a China. Por causa da revolução chinesa, as irmãs foram expulsas
do país, mas em Taiwan nasceu uma província. Como pode ver, ela tinha um
espírito missionário muito grande.
- Site
Franciscanos - Quantas irmãs tem a Congregação hoje?
Ir. Nila – A Congregação já chegou a ter 600 irmãs. Hoje, somos 389 irmãs.
Mais da metade da Congregação está no Brasil. Só na província de Belém, somos
102 e 98 em Salvador. Atualmente, a Europa vive uma crise vocacional muito
grande. A Província da Alemanha é formada majoritariamente por idosas, sem
muitas perspectivas de
entradas. Nos EUA não é diferente. Já Taiwan e Namíbia
têm muitas vocações.
- Site
Franciscanos – Quais os maiores desafios nas regiões da Amazônia?
Ir. Nila – A própria situação geográfica já é difícil. As distâncias são
muito grandes. Então, praticamente em todas as cidades que Dom Amando mandou os
frades, as irmãs estavam presentes. Por exemplo, em Santarém, durante muito
tempo só tinha a presença dos frades e a nossa. Nós sempre tivemos uma relação
fraterna muito boa com os frades. Como agora, na aldeia de Cururu e em
Jacareacanga.
- Site
Franciscanos - Como é a Missão nestes
lugares?
Ir. Nila - A Missão Cururu fica no Alto Tapajós. Lá só existe a população
indígena mesmo. É feito ali um trabalho na área de saúde, educação e
evangelização. Tudo respeitando a cultura indígena. Tanto, que na celebração
eucarística, a leitura é feita na língua mundurucu.
- O Evangelho é na língua
portuguesa. É uma educação diferenciada, própria para os índios. Os professores
são quase todos índios e o calendário escolar é totalmente diferenciado e feito
de acordo com a colheita. Frei Amarildo aprendeu a língua mundurucu muito bem e
fez muitas cartilhas bilíngües. Depois desta missão, a cidade mais próxima, que
leva um dia de viagem de “voadeira” (lancha), praticamente sem interrupção, é
Jacareacanga. Lá, as irmãs trabalham com os frades na vila, nos rios, com os
ribeirinhos, uma população totalmente diferenciada da cidade e que tem um ritmo
próprio de vida – e nas aldeias, com a população indígena.
- VENHA VOCÊ TAMBÉM FAZER PARTE DESTA OBRA.
Conteúdo retirado do site FRANCISCANOS
Por:Marcelia Bruna
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